ABRIMOS NOS DOMINGOS 15 e 22 DEZ.

Aberto de 2ª a Sábado
das 10h às 14h e das 15h30 às 19h30
abrimos à noite para as sessões agendadas

AGENDA

26/02/10

Domingo 28, 17h: poesia e música no Pátio de Letras

Apresentação, com forte componente musical ao vivo (viola d'arco e violino), do 2º livro de poesia de Manuel Paulo, sob o signo da Arca da Aliança que dá o título à obra e que de alguma maneira se explica no primeiro poema:

lugar mítico onde se hão-de guardar as memória do que passou e do que há-de vir

“A Arca irá recolher

As tuas memórias,

As histórias dos teus filhos

E as dos filhos dos teus filhos

Até à terceira

E quarta geração”

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A Poética televisual de Samuel Beckett

Apresentação no Pátio de Letras no dia 27 Fev, às 17h: livro da autoria de Gabriela Borges
leitura dramática de excertos de uma peça de Beckett pelo Prof. doutor António Branco (actor e professor da UAlg); exibição comentada de uma peça de Beckett para televisão.

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Este livro discute a poética televisual de Samuel Beckett elaborada a partir das suas experimentações em diversas mídias e apresenta uma análise estética e intersemiótica das tele-peças e das transcriações das peças de teatro para a televisão. Além de ter proporcionado a Beckett a possibilidade de expressar o seu olhar estético por meio das formas que criou, a tecnologia televisual se abre para experimentações e indagações a respeito de seu potencial expressivo e artístico. A arte pode trazer vida inteligente para a televisão, as tele-peças de Beckett mostram que existem imagens que, uma vez criadas, podem forçar os limites do constante enquadramento e reenquadramento do domínio tecnológico. Com isso, a tecnologia se abre para o mistério da arte e para um novo saber fazer da técnica que seja poético.
Recensão por Josette Monzani:
Neste belo livro de Gabriela Borges temos um Beckett exposto. Sim, porque a autora nos apresenta, juntamente com sua arguta análise, o fazer constitutivo da estética televisiva do autor.

Praticamente desconhecido do público brasileiro, posto que nunca divulgado ou publicado aqui, esse material de trabalho beckettiano mostra-se rico e útil para todos aqueles que pensam a TV – seu modo narrativo, segundo um molde inteligente.

André Bazin, ao comentar o trabalho de Tati, disse que “jamais, sem dúvida, o aspecto físico da palavra, sua anatomia, havia sido posto tão claramente em evidência”. Podemos, sem dúvida alguma, estender essa colocação, no caso de Beckett, aos modos vários e inusitados de dispor os elementos que compõem a linguagem da TV. A carnalidade do constructo televisivo é por ele desnudada de forma criativa, instigante.
Pensa-se Beckett e pensa-se a TV. Gabriela Borges, com este estudo, preenche uma lacuna no nosso conhecimento das inúmeras ‘buscas’ empreendidas no campo das artes audiovisuais pelo grande romancista e teatrólogo, com uma leitura atenta aos múltiplos caminhos por ele percorridos, aqui dispostos à espera de novas reflexões.

CV de Gabriela Borges:

É mestre e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Foi investigadora visitante na Universidade Autônoma de Barcelona, no Trinity College Dublin e na Universidade do Algarve, Portugal, onde realizou pós-doutorado no Centro de Investigação em Artes e Comunicação e actu como investigadora e professora. Tem capítulos de livros e artigos publicados em Portugal e no estrangeiro e organizou com Vítor Reia Baptista o livro Discursos e Práticas de Qualidade na Televisão (2008).

22/02/10

ler e respirar 15


O Dia D (e depois)

Anthony Beevor criou uma sólida reputação de historiador militar mesmo se este “militar” mereça aspas, aliás de simpatia. Beevor não faz relatórios (estimáveis, decerto) de campanhas mas descreve-as com talento, rigor num estilo desenfastiado. Não esquece a vertente politica do que historia e, sobretudo, não esquece a humana.

Já o conhecia de duas anteriores obras altamente recomendáveis (“Paris após a libertação” e “A queda de Berlim”) que tinham sobre outras, mais antigas e sobre o mesmo assunto, a inestimável virtude de se apoiarem numa vastíssima documentação só recentemente disponibilizada pelos grandes arquivos políticos e militares dos principais contendores.

Este Dia D abrange fundamentalmente toda a campanha da Normandia, a libertação de Paris, a campanha da Bretanha e os primeiros e malogrados ataques aliados pelo Norte (Holanda). Trata-se de um exercício arriscado mas profícuo pois, de uma vez por todas, destrói alguns mitos e algumas ideias comuns: o primeiro – e importante – tem a ver com a ideia de que o dia do desembarque foi o mais sangrento (Omaha a sangrenta). Não foi, obviamente mesmo se as sólidas defesas ideadas por Rommel tenham sido eficazes. Tivessem as “divisões Panzer” de reserva avançado imediatamente para o litoral, tivesse a Luftwafe podido fazer o que devia decerto que o desembarque teria corrido bem pior.

Por outro lado, Beevor (inglês, note-se...) põe em causa muitas das opções de Montgomery, faz luz sobre alguns dos seus mais trágicos erros e historia com desenvoltura e conhecimento as divisões e rivalidades 2dentro” do próprio alto comando inglês.

Em terceiro lugar, historia com minúcia a campanha no “bocage” normando, as suas terríveis dificuldades, as gigantesca baixas aí verificadas que não ficam a dever (salvaguardadas as proporções) ao esforço russo na frente oriental e, posteriormente no avanço soviético sobre o Vístula, a Prússia Oriental e finalmente Berlim).

Depois, em quarto lugar, demonstra com brutal franqueza as debilidades do exército americano que, de facto, se foi criando ali, no terreno. De como tropas frescas mas inexperientes aprendem pelo método mais duro a agir como um exército. Reavalia, com justiça, o papel primordial de Patton quando finalmente consegue um comando.

Finalmente, rende justiça às tropas francesas de Leclerc e à sua guarda avançada que entra em Paris. Já não era sem tempo assinalar o papel dos milhares de soldados espanhóis republicanos alistados no norte de África. Sintomaticamente é uma famosa companhia “la nueve” autotransportada em tanques ligeiros que entra em Paris, pela porta de Orleans. Os carros, todos sem excepção, ostentam nomes de batalhas e cidades espanholas. O seu a seu dono.

À “Resistência” francesa dá igualmente lugar se bem que em menor escala do que o clássico de Cornelius Ryan. Ou seja, a Resistência cumpriu galhardamente o seu papel de sabotagem, de informação, de comunicação, mas isso não pode fazer esquecer alguns dramáticos erros (Vercors, por exemplo) onde homens corajosos mas mal armados tentam dar combate campal às tropas alemãs: o resultado foi uma chacina e os seus inspiradores deveriam ter sido julgados por isso.

Boa leitura, em suma. Mas adverte-se que é um calhamaço.

(anthony Beevor, "O Dia D - a batalha da Normandia", Bertrand, 2009

* na gravura: um dos carros da "Nueve" o "Guadalajara com a sua tripulação espanhola, em Paris.

18/02/10

"Mais livraria" no Pátio de Letras

Esta semana aumentámos a área de exposição de livros, com mais 3 estantes e uma mesa grande. Assim podemos agora dar mais visibilidade aos muitos livros que temos com descontos – literatura, poesia, ensaio – e à promoção de títulos das Obras Completas de Fernando Pessoa, a 10 €… bem como a livros infantis (a premiada editora Planeta Tangerina está em destaque logo à entrada, numa das novas estantes), de ensaio e de arte e design (agora em duas estantes autónomas, à saída, junto à nova mesa - na foto).

Mantêm-se as áreas de exposição e leitura.

Visite-nos!

O Pátio de Letras no «Portugal em Directo»


Reportagem/entrevista da Antena 1
programa Portugal em Directo - emissão de ontem dia 17

para ouvir clique aqui (começa ao minuto 24)

Uma tarde com CAMUS

14/02/10

O Pátio no Jornal Barlavento desta semana

http://www.barlavento.online.pt/index.php/edicao?edid=273

para ler clicar na imagem

Viagem através da Luz

O novo livro de poesia de José Vieira Calado foi apresentado no Pátio de Letras, no dia 17 de Janeiropelo Prof. Doutor Vilhena Mesquita. A apresentação decorreu nom tom informal, tendo o ilustre Professor discorrido sobre esta obra e a escrita de Vieira Calado, recorrendo apenas pontualmente a leituras do texto que preparara.

Agradecemos ao Doutor Vilhena Mesquita a disponibilidade para nos ceder o texto para publicação aqui no blog.

Um excerto (para ler tudo clicar aqui)


"Viagem através da Luz, e inscreve-se naquilo a que podemos designar por poesia experimental, uma via mais no recente trajecto do pós-modernismo lírico. O livro é, em si mesmo, uma unidade poética, constituída por um único poema, repartida por vinte e nove fracções, digamos assim, cujo tema principal é a Luz sideral e o universo cósmico, cujos versos pretendem conduzir o leitor numa inebriante viagem através do espaço celeste. Em todo o caso, é bom que se diga, o livro não é uma obra de ciência, mas de poesia, nem é tão pouco um repisar dos caminhos desbravados por António Gedeão, quando transformou a Física e a Química num objecto poético, formando um novo estilo lírico que se poderia designar por poesia-científica. Não, este é um livro muito diferente, tanto na abrangência temática como na extensão unívoca do poema, sendo que apenas existem algumas similitudes na dimensão da mancha poética."

09/02/10

Fernando Pessoa em destaque no Pátio de Letras









FICCÕES DO INTERLÚDIO  - POESIA INGLESA I e II - EDUCACÃO DO ESTOICO - PROSA - QUADRAS - HEROSTATO HORA DO DIABO - CRÍTICA - CORRESPONDENCIA 1923-1935 - CORRESPONDENCIA 1905-1922

também em destaque: muitos outros títulos de e sobre Fernado Pessoa

não se brinca com facas - recensão no Expresso

Suplemento ACTUAL - 6 de Fevereiro 2010
recensão por Helena Barbas

(para ler clicar na imagem)

01/02/10

sábado 6 de Fev., 16h30 - não se brinca com facas


José António Barreiros, conhecido advogado, Presidente do Conselho Superior da Ordem dos Advogados, com diversas biografias e ensaios publicados sobre o tema e figuras dos Serviços de Informação na Segunda Guerra Mundial, estreou-se na ficção em 2007, com Contos do Desaforo, editado pela Presença. Não por trabalhar no “foro”, mas pelo prazer do atrevimento de escrever.

Estreou-se agora no romance. É uma história de sentimentos, alguns amorosos. É um livro íntimo. Há sempre o risco de se pensar que é uma biografia. Mas José António Barreiros diz que é a história do que viu e sabe que se sente. «Muitos se reverão naquela história. Não pelo que nela sucede, sim pelo que nela se vive. É assim a alma humana, pena que por vezes triste quando verdadeira».

O autor vem a Faro conversar com os leitores. Apresenta-o Nuno Júdice, consagrado poeta, ficcionista e ensaísta, que actualmente dirige a revista Colóquio Letras, da Fundação Gulbenkian.

4ª f dias 3, 10 e 24 Fev., 21h30

"O NEO-REALISMO EXISTIU SIM!" - Ciclo Roberto Rossellini

Org. CINE-CLUBE de FARO - ENTRADA LIVRE

Dia 3, 4ª f., 21h30 : ROMA , CIDADE ABERTA (Itália, 1945, 97’, M/12)

Em Roma, Cidade Aberta, é possível observar claramente os elementos característicos do neo-realismo italiano: gravações em amplos exteriores, planos sequência, participação de não-actores nos papéis principais (à excepção de Anna Magnani e mais alguns), a temática da miséria, da solidão, do sofrimento, o realismo em primeiro lugar, em certos momentos sendo documental, elementos que vieram influenciar cineastas do mundo inteiro em diferentes épocas, pelo que é uma preciosidade a ser preservada para muito além do século XXI.

Dia 10, 4ª f, 21h30: PAISÀ (Itália, 1946, 125’, M/12)

Filme em 6 episódios que narra o avanço das tropas americanas, desde o seu desembarque na Sicília, em 1943, até a libertação da Itália, em 1945. As filmagens seguiram o estilo de Roma, usando luz natural e actores amadores. Neste igualmente memorável filme, Rossellini consegue mostrar como a guerra se deu na Itália, captando os sentimentos do povo comum, seu heroísmo, seus medos, suas histórias de amor, sua lealdade. Paisà pode ser considerado como o supremo exemplo do neo-realismo italiano.

Dia 24, 4ª f, 21h30: ALEMANHA, ANO ZERO (Itália, 1948, 72’, M/12)

Alemanha, Ano Zero é uma das obras máximas do mestre Roberto Rossellini e do Neo-realismo italiano. O filme explora a ferida deixada pelo Nazismo, que afectou de forma terrível e profunda uma geração, simbolizada na obra pela criança protagonista. Filmado em Berlim, Alemanha, Ano Zero é a última parte da chamada "trilogia da guerra", formada ainda por Roma Cidade Aberta e Paisà que, por sua vez, tinham sido filmados em Itália. Dois países e duas memórias assim unidos pelo cinema.

Richard Zimler e a descoberta dos manuscritos do último cabalista de Lisboa

«Bruheem kol demuyay eloha! Blessed are all of God’s self-portraits!»
Richard Zimler, The Last Kabbalis of Lisbon (1996)
Uma das técnicas mais estafadas dos romances históricos consiste no encontro ocasional de um manuscrito de inestimável valor documental para a compreensão de uma época pretérita, perdido num qualquer recanto deste mundo, à espera de um feliz e providencial descobridor. Para aumentar a expectativa e aguçar o interesse pelo enredo, é também costume associar ao relato uma bem urdida teia policial, de modo a prender o leitor aos mistérios de um crime cometido à distância de séculos e cuja resolução é sabiamente retardada da primeira à última página postas à sua inteira disposição. Sempre achei esta prática assaz desconfortável. Sobretudo quando o autor real do livro se tenta confundir com o narrador concreto da efabulação, deixando-me incapaz de destrinçar a fronteira exacta entre o factual e o fictício.

Richard Zimler deixou-se apanhar por esse subterfúgio romântico e aplica-o sabiamente n’ O Último Cabalista de Lisboa (1996). Institui-se, de uma assentada, em achador, tradutor e editor oficial de um texto perdido ou esquecido nas brumas do tempo. Incrementa o efeito de verosimilhança com uma nota introdutória de autor e outra histórica, um bem documentado glossário de termos hebraicos utilizados e um inevitável prólogo esclarecedor dos contextos envolvidos. Só depois de cumprido este cerimonial canonizado pelo género é que oferece o produto final aos potenciais apreciadores de dramas alheios. O sucesso estava garantido. Do dia para a noite, converteu-se num bem logrado e celebrado best-seller internacional.

Deixados para trás os supostos aparatos críticos e folheados os três livros constitutivos da obra resgatada, somos conduzidos, num ápice, aos escritos de Berequias Zarco. Compostos ao longo de 23 anos, no exílio otomano de Constantinopla, a memória selectiva do protagonista acaba por se concentrar numa única semana, aquela que se tornou tristemente célebre pelo Massacre de Lisboa. O calendário gregoriano datará a efeméride sangrenta a 19 de Abril de 1506, um domingo de Páscoa, dia em que a cristandade celebrava ecumenicamente a Ressurreição do Senhor, a vitória da vida sobre a morte. A seca, a peste e a fome, que grassavam na capital do império, terá estado na origem do motim, levando o fanatismo religioso vigente na época a acossar, violentar e assassinar centenas de vítimas inocentes, sob o pretexto de judaizarem em segredo e de serem, por conseguinte, os únicos causadores dessas calamidades públicas. Tudo isto no tempo d’El-Rei D. Manuel I, o Venturoso, o Afortunado, o Grande...

O manuscrito quinhentista do último cabalista de Lisboa é também um livro que nos fala de outros livros. Secretos, proibidos, enigmáticos. De livros misteriosos, tecidos com linguagens cifradas, que só os iniciados na arte cabalística terão a capacidade de decifrar. Fala-nos de tráfico de livros. Sagrados para uns, malditos para outros. Fala-nos de uma Haggada muito especial. Não só por descrever os ritos cerimoniais dos festejos da Páscoa hebraica, ou passagem, mas por ter sido pintada por Abraão Zarco, tio e mestre do narrador. Por ter sido roubada da geniza, o local oculto onde fora posto a salvo de olhares indiscretos. Por estar ligada a um conjunto de homicídios em série que constituem o núcleo policial do romance. Especial, também, porque no final da investigação revelará o rosto do assassino do mentor espiritual de Berequias Zarco. Sem disfarces, sem máscaras, sem mistérios. Ironia trágica por excelência de toda a fábula.

Bem vistas as coisas e lidos os livros, Umberto Eco já imaginara um esquema afim n’ O Nome da Rosa (1980). Só que os labirintos da biblioteca da velha abadia beneditina dão lugar às caves e ruelas labirínticas da Pequena Jerusalém lisboeta. O ambiente medieval italiano é substituído pelo ambiente renascentista português. Aristóteles é sacrificado a Platão. Em entrevista à revista Ler de Novembro de 2009, Zimler confidencia que se alguma dos seus livros fosse transformado em filme por um «realizador da galáxia de Hollywood», gostaria de o confiar a Steven Spielberg. O Último Cabalista de Lisboa seria a escolha adequada. Quem sabe se, um dia destes, o sonho não se concretiza e não o veremos projectado num qualquer cinema perto de casa.