ABRIMOS NOS DOMINGOS 15 e 22 DEZ.

Aberto de 2ª a Sábado
das 10h às 14h e das 15h30 às 19h30
abrimos à noite para as sessões agendadas

AGENDA

25/10/10

Maria Velho da Costa, as histórias peregrinas de Myra & Rambô...


«Não tenhas medo, miúda. Em todas as histórias há sempre uma ponta de paraíso, um véu de clemência que estende uma ponta, fugaz que seja.»

Maria Velho da Costa, Myra (2008)
Maria Velho da Costa nunca foi uma escritora convencional, nunca pactuou com o facilitismo do verbo feito por peso e medida, nunca se curvou ao gosto esteriotipado das leituras inócuas e ingénuas. Sempre escreveu sem papas na língua nem meias tintas, sem rodeios nem paninhos quentes. Disse sempre o que tinha a dizer e não aquilo que os outros gostariam de ouvir. Contra tudo e contra todos. Em nome individual e coletivo. A polémica gerada em torno das Novas Cartas Portuguesas (1972), tecidas em parceria com Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno – com quem formou as «Três Marias» – não lhe quebrou o ânimo de prosseguir o rumo pessoal por si traçado de se mover no mundo da literatura. Aquele que sempre se regeu pela recusa dos valores tradicionais anquilosados pelo tempo. A condição feminina tem marcado uma presença constante neste percurso de palavras feitas em forma de letra. O exemplo libertário de Mariana Alcoforado, a religiosa de Beja e presuntiva autora das anónimas Lettres Portugaises (1619), a inspiradora atestada da continuação moderna referida, que tanta tinta têm feito correr ao longo de quatro centúrias mal contadas, será depois retomado em muitas outras páginas de ficção romanesca e de feição ensaística. As personagens até podem mudar de nome, identificar-se com uma Maina Mendes (1969), viver em Casas Pardas (1977), rescender aos aromas revolucionários da Lucialima (1983) ou frequentar os ritos místicos da Missa in Albis (1988), que o empenho inconformista da mulher se mantém inalderado. Até à vitória final, diriam os panfletos políticos que a autora só registaria como mero exercício de estilo ou testemunho literário de uma época.

O último romance de Maria Velho da Costa conta-nos a vida de Myra (2008), uma jovem imigrante russa em terras lusas, que tanto assume ser apelidada de Sónia, Sophia, Helena, Ekaterina, Catarina, Kate, como ser alcunhada de Mula Ruça e Maria-Flor. Quando a vemos pela primeira vez, encontramo-la entregue à mais perfeita solidão e a caminhar em direção ao mar. Depois, descobre a presença de Rambô, um cão de luta, um cão de morte, um pitbull terrier ferido, tão mais infeliz do que ela, e que, por isso mesmo, furta ao maltrato dos donos e passa a chamar por César, Fritz, Piloto, Douro, Ivan. É que, como a própria trama novelesca regista e as vicissitudes do dia-a-dia se encarregam de confirmar, «um nome é um destino». A relação de amizade entre a criança indefesa e o animal feroz e as peregrinações continuadas dos dois pelos sendeiros do infortúnio conduzem-nos, com alguma fatalidade, aos universos de uma certa picaresca feminina que a inventiva dos séculos de ouro peninsular popularizou. A genealogia algo duvidosa da protagonista, os castigos físicos que lhe são infligidos, a fome, o medo, o abandono a que é votada, as mentiras, os disfarces, as falsas identidades, os encontros fortuitos de caminho, os amos e protetores, o convívio com o vício e a marginalidade, a arte e manha da sobrevivência quotidiana não faltam. Só que o humor tão típico do género prima pela ausência. É o horror que prevalece ao longo de toda a tessitura efabulativa. A ironia bem-disposta que convida a uma boa gargalhada é substituída pelo sarcasmo mais desapiedado que imaginar se possa, em que não há lugar a um simples sorriso ou esgare nervoso. Escusado será dizer que a instância narrativa lhe nega um final feliz, para a aproximar ainda mais da própria realidade que nos rodeia. A atual, a pós-moderna, a inaugurada com o terceiro milénio.

A escrita da Maria Velho da Costa é tudo menos simples. Já foi etiquetada de polifónica, labiríntica, fragmentária, caleidoscópica. Myra não foge em muito a este quadro de experimentalismo linguístico. Trata-se de um relato memorialista exposto a várias vozes, na fronteira da parábola e da fábula, a poucos passos do realismo mágico da latinidade ibero-americana. O processo de amadurecimento da autora enveredou para um discurso mais fluido, mais fluente, mais fácil de seguir, talvez por estar centrado na existência de uma criança a despertar para a vida, ainda que obrigada a comportar-se como uma adulta a quem negaram o direito à infância e à adolescência. Segundo a lição do texto, expressa pela heroína ao fiel companheiro de adversidade, «Há dempre mais maus que os maus, Ivan. Mais terríveis do que os terríveis». Amarga consolação para esta nossa inútil passagem pela mundo, esta nossa travessia de um deserto sempre às margens do «dano» e nas esteiras da «dor».

23/10/10

O "novo Bolaño" já nas bancas

A Literatura Nazi nas Américas é uma enciclopédia ficcional composta de pequenas biografias de autores pan-americanos imaginários. Estes nazis literários —fascistas, fanáticos e reaccionários —são retratados numa galeria de medíocres alienados, snobes, oportunistas, narcisistas e criminosos.

Numa entrevista, Roberto Bolaño referiu-se aos seus autores nazis na América como uma metáfora do mundo das letras, às vezes heróico, outras desprezível.

E, na verdade, ainda que inventados, estes escritores são personagens de histórias, essas sim reais, de grandes nomes da literatura das américas.
 
Editora QUETZAL - PVP 15,95 €

22/10/10

Astrologia Kármica, Humanista e Transpessoal, com João Moreira Santos

Sábado dia 30  (sala com entrada junto ao bar): das 10h às 13h30 e das 115h às 18h
WORKSHOP: Fundamentos da Astrologia Humanista, Kármica e Transpessoal
- às 21h30, na esplanada do  Pátio de Letras:
Apresentação pública: "100 Reflexões para uma Vida Maior: Para um novo Homem numa nova Era" - o seu recém-editado livro

Domingo dia 31, a partir das 10h00 (sala com entrada junto ao bar): consultas, mediante marcação prévia

Inscrições: Pátio de Letras

O formador e autor, João Moreira Santos:
A dedicação de João Moreira Santos à Astrologia, particularmente ao seu ensino, surgiu depois de uma carreira profissional no meio empresarial e também universitário – onde leccionou durante cerca de 10 anos – estando actualmente a terminar o seu doutoramento em Ciências da Informação.

Interessou-se pela Astrologia no final dos anos 90, ainda como autodidacta, e no início do novo século ingressou no QUIRON – Centro Português de Astrologia, tendo estudado ao longo de sete anos com Maria Flávia de Monsaraz, José Augusto, Alan Oken, Margarida Amaro, Luc Bigé e Nuno Michaels.

Em 2007/08, realizou o seu primeiro Curso de Astrologia, iniciativa embrionária do pioneirismo que assumiu em 2009 ao levar pela primeira vez o ensino desta sabedoria milenar ao Banco de Portugal e, já em 2010, a empresas da área farmacêutica/química. Neste mesmo ano, participou como orador no XXVII Congresso Ibérico de Astrologia (Maio) e na Expo Sénior (Março).

Entre as suas actividades do presente contam-se as consultas privadas, a formação, a redacção de artigos para revistas e a autoria de livros na área da Astrologia e Nova Era, incluindo A Voz da Alma, 101 Intuimentos para uma Vida Maior (no prelo) e uma obra sobre os aspectos astrológicos, escrita em parceria com José Augusto. Colaborou também na edição de um livro da autoria de Maria Flávia de Monsaraz (11 Entrevistas e um Poema de Sempre; Junho 2010).

Acabadinho de sair: "OS DONOS DE PORTUGAL - Cem anos de poder económico em Portugal (1910-2010)"

APRESENTAÇÃO no Pátio de Letras, por Francisco Louçã e Cecília Honório - 5ª f 28, 18h00


clicar na imagem para aumentar

20/10/10

Já o temos! Viagem á India, de G. M. Tavres

“Uma Viagem à Índia, com consciência aguda da sua ficcionalidade, navega e vive entre os ecos de mil textos-objectos do nosso imaginário de leitores. Como todos os grandes livros, e este é um deles.”

Eduardo Lourenço
 
Gonçalo M. Tavares nasceu em 1970 e publicou a sua primeira obra em Dezembro de 2001. Desde aí já conquistou a crítica, uma legião de leitores e vários prémios nacionais e internacionais – Prémio Portugal Telecom (Brasil), Prémio José Saramago, Prémio LER/Millennium BCP, Prémio Branquinho da
Fonseca, Prémio Revelação de Poesia e Grande Prémio de Conto da APE, Prémio Internazionale Trieste (Itália) e Prémio Belgrado Poesia (Sérvia). Foi ainda nomeado para o Prix Cévennes 2009 – Prémio para o melhor romance europeu (França).

15/10/10

ADOPÇÃO - debate e apresentação de livro a favor do Refúgio Aboim Ascensão


Rosa Varela, autora deste livro infantil e Paulo Sargento dos Santos, psicólogo clínico, apresentam a obra e colocam em debate o tema ADOPÇÃO. A sessão contará ainda com a participação de  Luis Villas-Boas, Director do Refúgio Aboim Ascensão.

O livro -  que explica ás crianças que o amor não nasce, obrigatoriamente, dos laços de sangue -  é prefaciado pela Drª Maria Barroso,  Presidente da Emergência Infantil em Portugal.

Os direitos de autor da obra revertem a 100% para o Refúgio Aboim Ascensão, instituição de apoio à infância desvalida.

Ajude-nos a ajudar: participe e divulgue!

Rosa Varela é licenciada em Educação Especial, professora de crianças e jovens com graves dificuldades de aprendizagem, em situações de risco, filhos de famílias disfuncionais a vários níveis.Em projecto de Doutoramento na Universidade de Aveiro

Paulo Sargento dos Santos é licenciado em Psicologia Clínica, com pós-graduação em Psicologia Legal e em Psicologia do Desenvolvimento. É Professor da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias desde 1991 e Sub-Director do Departamento de Psicologia, onde é responsável pelo tronco comum.

14/10/10

Fernando Cabrita vencedor do Prémio de Poesia Palavra Ibérica

Parabéns Fernando!

"O poeta algarvio Fernando Cabrita é o vencedor da edição portuguesa do Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibérica 2010.
O prémio resulta de uma colaboração entre a Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e o Sulscrito – Círculo Literário do Algarve, em parceira com a Câmara de Punta Umbría (Espanha).
O valor do prémio é de 2500 euros e a obra vencedora é publicada na colecção Palavra Ibérica, em edição bilingue.
Além de Fernando Cabrita, o júri decidiu atribuir duas menções honrosas aos originais "Um Coração Simples", de Daniel Gonçalves, e "Sonetos de Pasmo, Esperança e Solidão", de Joaquim da Conceição Barão Rato.


Fernando Cabrita, que nasceu em Olhão em 1954, teve a sua primeira obra, “Os Amantes em Silêncio”, editada em 1980. A sua obra anterior a “Ode à Liberdade e Outros Poemas”, “O Livro da Casa”, foi publicada em 2008 pela editora Gente Singular,e valeu-lhe o Prémio Nacional de Poesia Mário Viegas. Entre os outros prémios que recebeu ao longo da sua carreira estão o Prémio Sílex (1980), Prémio Cidade de Olhão (1987) e Prémio Nacional de Poesia João de Deus (1997). Colaborou também com diversos jornais e revistas.

Na edição anterior do Prémio Internacional de Poesia Ibérica, o vencedor tinha sido Maria do Sameiro Barroso, com “Uma Ânfora no Horizonte”, enquanto em 2008 o vencedor foi Amadeu Baptista, com o livro “Sobre as Imagens”.

13/10/10

O Economista Acidental - apresentação Sáb. 16, às 17h30

Apresentação, no Pátio de Letras,  do novísimo livro de Miguel Szymanski,  jornalista nosso conterrâneo, pelo Dr. João Vieira Branco.



Somos todos economistas acidentais: Hoje toda a gente negoceia empréstimos, transfere dívidas de um banco para o outro, tem vários cartões de débito e de crédito, compra carros e vende casas. Não somos engenheiros acidentais, nem médicos acidentais, não fazemos cálculos de estática nem operações ao apêndice. Mas fazemos operações bancárias e em bolsa. Se há trinta anos fosse ao seu banco pedir um crédito para ir de férias ou para lhe anteciparem o pagamento do seu ordenado, o mais certo era pensarem que estava a precisar de apoio psiquiátrico. Hoje, mulheres e homens de todas as idades têm que ser economistas acidentais, que queiram, quer não. Talvez por isso seja tão frequente acontecerem...acidentes. Para os evitar e ajudar a ver melhor os riscos e obstáculos na perigosa estrada das decisões económicas, e a pedido de muitos leitores, chega agora a oportunidade de ler, em livro, as crónicas do Economista Acidental publicadas mensalmente na revista GQ.

(sinopse: fonte- editora BABEL)

08/10/10

Raridade Vargas Llosa No Pátio de Letras

Como sempre... muitas das obras editadas em português do laureado com o Prémio Nobel estão esgotadas... ou quase.
A D. Quixote prepara em força reedições, mas não de todos os títulos do autor que tem no seu catálogo.
É o caso de A CASA VERDE, que não vai ser reeditado pela D. Quixote e de que o Pátio dispõe de 2 exemplares...

Outros títulos que temos no Pátio:
CONVERSA N'A CATEDRAL
PANTALEÃO E AS VISITADORAS
TIA JULIA E O ESCREVEDOR
TRAVESSURAS DA MENINA MÁ
CARTAS A UM JOVEM ROMANCISTA
A FESTA DO CHIBO (livro de bolso)

Mural de homenagem a Francisco Zambujal: inauguração hoje, 8 Out, às 10h30

Inauguração de Mural em cerâmica na Escola EB n1 (Escola de São Luis)
O projecto,. idealizado por Pedro Bartilotti e Osvaldo Macedo de Sousa, com a cumplicidade dos artistas Carlos Laranjeira, Fernando Madeira, Pedro Ribeiro Ferreira e Ricardo Galvão, sem esquecer o apoio técnico do Mestre Mexias, vai finalmente ver a luz do dia e ser partilhado com os Farenses, com os amigos, com os admiradores.


Trata-se do último acto´público do conjunto de iniciativas de homenagem ao caricaturista/pedagogo Francisco Zambujal que decorrem em Faro desde o passado dia 4 de Setembro.

É hoje, portanto, o último dia em que pode visitar as exposições patentes na CCRA, n'Os Artistas e no Pátio de Letras.
 
O catálogo da exposição continuará à venda no Pátio de Letras (PVP 8 €)

06/10/10

AGENDAS PERPÉTUAS no Pátio de Letras

AGENDA GASTRONÓMICA - PVP 23,72 €
clicar na imagem para ler

AGENDA LITERÁRIA - PVP 8,59 €


Agenda Mário de Sá-Carneiro - PVP 23,72 €
clicar na imagem abaixo para ler

alguns "Doces e Salgados" algarvios no Pátio de Letras

 
Aguardentes de frutos e Licores do Algarve - Ed. Colibri - PVP 15,15 €
Doçaria Tradicional do Algarve - Ed. Colareas - PVP 18,07 €

Cozinha Regional do Algarve - Ed. Europa América
15% desconto sobre o PVP de 12,61 €

Livro grande, de capa dura, Ed. Assírio & Alvim; PVP 35,33 €

Livro grande, de capa dura, Ed. Assírio & Alvim;  BILINGUE; PVP 38,36 €
Best Easy Recipes Book - Gourmand World Cookbook Awards 2009

Ed. Colares; PVP 16, 96 €
clicar na imagem abaixo para ler a sinopse

 

Novos autores e/ou livros do/sobre o Algarve no Pátio de Letras

A Proclamação da República no Algarve, de Aurélio Nuno Cabrita, Ed. Gente Singular - lançado no passado dia 2 de Outubro na Biblioteca Municipal de Faro
(PVP 12 €)

Silves e o Algarve - uma História da oposição à Ditadura, de Maria João Raminhos Duarte - novidade editorial Ed. Colibri
(PVP 25,01 €)

da mesma autora: Presos Políticos Algarvios
Ed. Colibri, PVP 7,57 €
 
Chamamos ainda a atenção para A Construção de uma Identidade Urbana no Algarve - o caso de Loulé, de Maria de Fátima Botão, uma também recente edição Colibri:
 
(PVP 19,95 €)

Colecção Filosofia para Crianças: realmente NOTÁVEL

Nova colecção da Dinalivro com livros visualmente bonitos e que estimulam as crianças (*) a reflectir, de forma adequada à sua idade, sobre as grandes questões da Vida. Livros que não têm respostas formatadas mas antes ajudam a PENSAR... enfim, a crescer emocional e intelectualmente como pessoas e cidadãos.

(*) a partir dos 7 anos

 





O Que É a Vida: PVP 15,14 €; todos os demais: 15,13 €

Mais livros PNL (LER+) no Pátio de Letras

leitura recomendada para o 1º ano de escolaridade; PVP 8,98 €; Ed. Gailivro

 

 

António Damásio - livros em promoção

Ao mesmo tempo que disponibilizamos o novo título de António Damásio - LIVRO DA CONSCIÊNCIA (Ed. Temas e Debates - PVP 23,90 €)


Temos com PVP de 22 € cada (cerca de 20% de desconto sobre o preço normal) os seguintes títulos das Ed.  Europa-América:












05/10/10

Workshop de FOTOGRAFIA com Luiz Carvalho - 16 e 17 Outubro

no Pátio de Letras - agora em sala ampliada
clicar na foto para saber todas as informações

Álvaro Guerra, Trilogia dos Cafés: primeiro folhetim – República...

«Eu tinha pensado chamar-lhe Café Central, mas quando encomendei a tabuleta ao Praga de Mãe, ele veio com aquelas falinhas mansas, que a República tinha sido implantada há duas semanas, que era um nome bonito e poderoso, e tal e coisa. E, olhe, deixei-me convencer.»
Álvaro Guerra, Café República (1982)
O Café República (1982) de Álvaro Guerra é um texto datado no tempo. Tal como a própria implantação da república, cujo centenário agora se celebra com toda a pompa e circunstância que a data exige e a crise permite. Para os seus obreiros, o velho mito sebastianista e messiânico do desejado estaria concluído. O encoberto tinha escolhido a sua manhã de nevoeiro, montado o cavalo branco e partido à desfilada para resgatar o país da decadência em que o mergulhara trezentos e tal anos atrás com a aventura desastrosa de Alcácer-Kibir. A panaceia milagrosa de todos os males gizados pela monarquia estava encontrada. A promessa de redenção dos ideais da liberdade, fraternidade e igualdade tantas vezes proferida e outras tantas adiada, tinha enfim chegado pelas mãos de uma mariana portuguesa, de maminha ao léu e barrete frísio sustentado por um ramo de oliveira, ou de louro ou de espigas de trigo, como a iconografia nacional registou e as moedas de escudo puseram a circular. A realidade, contudo, rapidamente se encarregou de desvanecer essa ilusória esperança de renovação e de dilatar o compasso de espera num devir histórico sem horizonte à vista.

O painel inicial da «Trilogia dos Cafés» remete-nos para o período compreendido entre as duas guerras mundiais. Aquele em que o novo regime deu os primeiros passos incertos e desajeitados para, logo de seguida, dar um trambolhão colossal que lhe custaria quase meio século de aturado esforço a recuperar e a levantar-se. Entre o atentado de Sarajevo e a rendição do Reich alemão, a República Portuguesa vitoriosa no 5 de outubro de 1910 acabou por cair no 28 de maio de 1926 e ser revezada pelo Estado Novo. A revolução nacional dos militares façanhudos de Braga a abrir o caminho ao professor de Coimbra e futuro ditador de Lisboa sem direito a nome. Ao invés do duce italiano, do fürer germânico e do caudillo espanhol, o anunciado salvador da pátria (mais um) e enfático mentor da «casinha portuguesa» só será referido por perífrases depreciativas feitas à medida do presidente do conselho, filho de Santa Comba e senhor de São Bento, o Manholas, o Botas, o chefe. Excecionalmente, uma criança de dois anos soletrará Sanazar e Beatriz Costa cantará Falazar numa revista do Parque Mayer. A inocência e a irreverência de mãos dadas.

A fábula é uma incursão da história fingida na verdadeira, um «ciclo de pequenas histórias» coligidas no Folhetim do mundo vivido em Vila Velha (1914-1945). Assim reza o subtítulo do romance inaugural do tríptico. É também uma saga de sagas, uma crónica de crónicas, uma gesta de gestas. É o relato aturado das efemérides dessa terra de pescadores e campinos, de lavradores e ganhões, de literatos e políticos, de fidalgos e plebeus, situada a 50Km da capital, cercada a norte por quintas, casais e cabeços e a sul por lezírias, rios e ribeirão. Espaço cénico criado num espaço dramático real. Palco ideal para declamar as inexoráveis misérias dos povos, as vividas pelas famílias nucleares e as comentadas nas tertúlias oficiais. As casas grandes e pequenas a deslocarem-se, conforme os ditames sociais e modismos vigentes, para a farmácia, a mercearia, a filarmónica, o clube, a barbearia e o café do burgo. Sobretudo este último, ribalta singular do sentir coletivo dos borda-d’água e ponto nevrálgico de todo o tecido narrativo, o revolucionário Café República, depois transformado no conservador Café Central. A censura e a tortura, as prisões e as deportações, a caça às bruxas e a queima de livros soaram mais forte no espírito avisado do proprietário, que preferia vê-lo de portas abertas às cavaqueiras certas dos clientes do que às devassas incertas da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado.

Neste contexto novelesco, de corte neorrealista tardio, são dados muitos vivas à república, a portuguesa e a espanhola. Depois a coragem das personagens de papel e tinta cede passo às pressões das personalidades de carne e osso. Os vivas à coisa pública repetem-se todos os anos, como um ritual obrigatório que o uso tem despido de sentido e a apatia vulgarizado. O desejado ainda se mantém nessa ilha encantada coberta pelo nevoeiro. Na Vila Velha de então como neste nosso mundo novo de agora, o compasso de espera a marcar o ritmo lento dos dias...



04/10/10

Mais REVISTAS no Pátio de Letras

Recebemos recentemente:
SEARA NOVA
VÉRTICE
COLÓQUIO LETRAS

Novo:
Letras Com(N)vida - nova revista científica e de criação artística, semestral, editada pelo CLEPUL (Centro de Literaturas de Expressão Portuguesa das Universidades de Lisboa) sob a Direcção de Miguel Real e de Beata Cieszynska

1º nº - 18,75 €

Outras revistas no Pátio de Letras:

A Phala

Africana Studia

Análise Social

Arquitectura Iberica

Artistas Unidos

Cadernos de Filosfia

Cine Qua Non

(Colóquio Letras)

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EXIT (rev. espanhola de arte e arquitectgura)

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Relâmpago

Rev. de Psicologia da Criança e do Adolescente

(Seara Nova)

Sociedade e Território

Sulscrito

Transform

(Vértice)

A Homossexualidade durante a Ditadura -apresentação e debate

Com:
- a jornalista do Público SÃO JOSÉ ALMEIDA, distinguida pela Comissão Europeia com o primeiro prémio no concurso para Portugal "Pela Diversidade. Contra a Discriminação" pelo trabalho "Homossexuais perseguidos no Estado Novo", editado recentemente pela Sextante;
 - Professor Doutor NUNO SANTOS CARNEIRO, Psicólogo Clínico, Doutorado pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto;
 - FABÍOLA CARDOSO, presidente-fundadora do Clube Sapho

Sáb, 9 de Outubro, 21:30 - Pátio de Letras